Muitas pessoas que têm Ansiedade aprenderam, ao longo da vida, a usar estratégias que, em vez de ajudar, acabam piorando ainda mais a situação. Listarei algumas dessas estratégias que NÃO FUNCIONAM e, nos comentários, darei algumas dicas sobre como lidar com elas
ESTRATÉGIAS QUE NÃO FUNCIONAM para lidar com preocupações
1. Querer eliminar a INCERTEZA: querer ter o controle de tudo, prever e controlar cada detalhe só aumenta a ansiedade. A incapacidade de lidar com a incerteza nos deixa mais ansiosos e estressados.
2. Querer eliminar pensamentos: tentativas exageradas de eliminar pensamentos levam, muitas vezes, ao aumento deles. Não é possível eliminar pensamentos focando neles: acabamos prestando mais atenção neles, pois nossa mente entende que eles são perigosos.
3. Evitar desconfortos: evitar enfrentar situações e desafios que geram ansiedade ou estresse traz uma falsa sensação de calma e reduz a ansiedade no curto prazo, mas, no longo prazo é péssimo, pois reforça a crença de que não temos competência para lidar com os problemas e faz com que nos sintamos ainda mais vulnerável e ansiosos com eles.
4. Aumentar o consumo de bebida, drogas ou comida: algumas pessoas fazem isso como uma forma de regular as emoções (acalmar, relaxar). Isso funciona no curto prazo, parece ser menos assustador do que enfrentar os conflitos, os desafios. Porém, no longo prazo, o custo de não enfrentar as situações e os problemas são altos: o problema “original” vai piorando cada vez mais, acrescido dos problemas trazidos pelo excesso de consumo de bebidas, drogas ou comida.
5. Não admitir erros ou falhas: exigir que tudo seja perfeito, sempre, não admitir falhas nem erros aumenta ainda mais a ansiedade, nos deixa em estado de alerta o tempo todo, gera estresse crônico, que nos adoece física e emocionalmente.
6. Se culpar por ter pensamentos loucos ou que causam vergonha: a pessoa se sente culpada por estar tendo esse tipo de pensamento e acredita ser uma pessoa ruim ou moralmente condenável por causa disso.
Algum desses itens às vezes te incomoda? Se sim, veja abaixo algumas dicas sobre como lidar com eles, de uma forma que funciona:
DICAS DE ESTRATÉGIAS QUE FUNCIONAM:
1. Querer eliminar a incerteza
Essa estratégia de controlar tudo só leva à necessidade de obter mais e mais controle, já que ela reduz apenas falsamente e temporariamente a ansiedade, por pouco tempo. É uma péssima estratégia porque não é possível eliminar a incerteza, pois ela faz parte da vida e do mundo em que vivemos. Aprender a conviver com a incerteza é uma forma mais saudável de lidar com a ansiedade. Não temos o controle de tudo. Tão importante quanto planejar é saber lidar com os imprevistos, saber improvisar, ainda que possamos fazer isso a partir do nosso planejamento.
2. Querer eliminar pensamentos
Quando tiver um pensamento indesejável você pode aceitar que ele venha, entender que se está presente é porque pode ter algo importante a te comunicar, entender como esse pensamento te ativa emocionalmente. Há vários exercícios terapêuticos que podem ser realizados, nessa etapa, com o auxílio de um psicoterapeuta, para te ajudar. Após essa etapa, outra medida importante é focar a atenção em outras coisas que passarão a ocupar a sua mente. Esse é o sentido da palavra dis-tração: tirar a “tração” de algo e focar sua atenção em outra coisa.
3. Evitar desconforto
A pior forma de lidar com um PROBLEMA ou SITUAÇÃO desafiadora é evitando-a, deixando de enfrentar a situação. Todas as vezes que evitamos ou não encaramos um problema, a rede neural que existe em nosso cérebro associada à reação de luta e fuga se fortalece e reforça a ideia de que não somos capazes de enfrentar o problema. Todas as vezes que enfrentamos os problemas, vamos percebendo que não somos vítimas, podemos fazer algo. Uma boa dica é dar pequenos passos, fazer pequenos avanços, ir ganhando confiança e celebrando cada conquista, e ir enfrentando desafios maiores, gradualmente.
4. Alienar-se com bebida, drogas ou comida
Quando perceber que está exagerando no consumo de bebidas alcoólica, comida ou de algum tipo de drogas que, antes, usava apenas recreativamente, é um sinal de que está na hora de procurar ajuda profissional, de um bom psicoterapeuta.
5. Não admitir erros ou falhas
Pequenas falhas são possíveis de acontecer e mesmo que aconteçam você terá a chance de contorná-las, sendo espontâneo e lidando com elas com naturalidade, com leveza e humor, quando possível, não se culpando e não culpando as pessoas e focando, sempre, nos seus objetivos. Assim, se você se esquecer de uma palavra ou frase, poderá improvisar, substituir por algo que caiba no contexto. Se tiver algo que não saiba, você poderá ser sincero e dizer que não sabe, que pesquisará sobre isso e poderá conversar com a pessoa posteriormente. As pessoas gostam de lidar com outras pessoas que assumem suas vulnerabilidades, em vez de ficar dando desculpas e disfarçando. É muito chato conviver com alguém “infalível”, “sabe-tudo”, a pessoa fica mecânica, artificial.
6. Se culpar por ter pensamentos loucos ou que te causam vergonha
Quatro coisas fazem as pessoas se preocuparem com tais pensamentos: a) interpretá-los como sinal de perda de controle e estar ficando louco; b) sentir-se envergonhada e culpada por causa desses pensamentos; c) achar que deve se livrar deles imediatamente; d) acreditar que seus pensamentos ou impulsos são sinais de que algo realmente ruim vai acontecer.
É bastante útil lembrar-se das inúmeras vezes que você teve pensamentos ‘loucos’ e eles simplesmente não se realizaram! Pensar sobre algo não é o mesmo que fazê-lo nem prova que irá fazê-lo ou que esse algo irá acontecer. Muitas pessoas acreditam que ter determinados pensamentos significa que elas são imorais ou confusas; que esses pensamentos revelam algo sobre seu caráter ou sanidade. Isso não é verdade: caráter e sanidade não são determinados pelos pensamentos. São determinados por aquilo que você realmente FAZ. Pensamentos nada dizem acerca de seu caráter. Lutar para se livrar dos pensamentos, em vez de reconhecer que são normais, apenas aumenta a preocupação.
Esse conteúdo foi pensado tendo como inspiração e fonte o livro do Robert Leahy: Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas paralisem você (Porto Alegre: Artmed, 2007).
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