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  • Foto do escritorJosé Amorim de Oliveira Júnior

Como conviver com alguém cujas MENTIRAS nos prejudica?


Nesse último mês atendi quatro pessoas que trouxeram para a terapia situações parecidas: elas estão em um relacionamento onde há a presença de Amor, reciprocidade, sonhos e projetos comuns e muitas provas de que ambas as pessoas querem bem um ao outro, MAS... convivem com alguém que MENTE sobre algumas situações específicas e isso abalou a CONFIANÇA e trouxe dúvidas sobre possibilidade de traições, em alguns casos e, em outros, dúvidas se a pessoa amava. Afinal, se ama, por que mente?


Isso me levou a escrever esse post, para trazer algumas reflexões que talvez possa ajudar outras pessoas que passem por essa situação.


A situação ideal, em qualquer relacionamento, é que prevaleça a VERDADE, a SINCERIDADE, a HONESTIDADE, pois são ingredientes de um relacionamento saudável, onde há CONFIANÇA.


Dito isso, deixo claro que sou favorável à VERDADE, pois ela reforça a confiança mútua e é a opção mais SAUDÁVEL em um relacionamento, por mais que seja doloroso dizer ou ouvir certas coisas.


Embora a MENTIRA, às vezes, possa parecer uma boa solução, ela é uma péssima opção, pois resolve um problema, a curto prazo, mas cria muitos outros, a médio e longo prazo: gera conflitos, perde-se a confiança em quem mentiu, a pessoa que foi afetada pela mentira se afasta, pois ela gosta da outra, que mentiu, e quer que ela admita que mentiu, para ela poder confiar novamente, mas muitas vezes a pessoa que mentiu bate o pé e continua negando. Além disso, a própria pessoa que mentiu às vezes fica tão estressada e ansiosa com medo de sua mentira ser descoberta, que acaba adoecendo a si mesma e fragilizando o relacionamento.


É necessário, entretanto, sair de uma análise superficial para entender um pouco mais a fundo sobre a MENTIRA.


Existe uma coisinha chamada de “MENTIRA SOCIAL”, que APRENDEMOS desde pequenos. Aliás, crianças pequenas não mentem. Pelo contrário, elas às vezes causam constrangimentos por falar o que pensam, sem filtros: são honestas e autênticas.


A mentira é APRENDIDA na infância, ensinada às crianças pelos adultos, muitas vezes pelos próprios pais quando, por exemplo, repreendem uma criança quando ela recebe um presente e diz que não gostou e os pais falam para ela dizer que gostou, ou quando falam para a criança dizer que não quer algo que foi oferecido (uma comida, por exemplo) quando, na verdade, ela quer muito. Situações como essas ensinam as crianças a mentir e a serem dissimuladas, espelhando comportamentos dos pais e dos adultos.


À medida que vão crescendo, a frequência de mentiras atinge o pico na adolescência e depois diminui na idade adulta.


Quando dizemos para uma criancinha que papai Noel existe NÓS estamos contando um tipo de mentira, socialmente aceita, porque entendemos que não apenas não faz mal, mas até ajuda a estimular o imaginário da criança.


Existem vários tipos de MENTIRAS e, por uma questão didática, as classificarei aqui em 3 tipos:

1) Mentiras BOAS (são aceitáveis e defensáveis, porque podem produzir algum BEM para alguém);

2) Mentiras INOFENSIVAS (são tidas quase como uma etiqueta social);

3) Mentiras que PREJUDICAM os outros (fazem mal, causam danos).


MENTIRAS BOAS

Gosto de contar a estória a seguir, para mostrar que existe sim, mentiras que podem ser consideradas POSITIVAS, BOAS:

Imagine que você está na Europa ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Bate na sua porta uma mãe com 2 filhinhos: eles são judeus e te pedem ajuda para abrigá-los para não serem mortos pelos nazistas. Você se compadece da situação e os abriga em sua casa. Momentos depois, um grupo de soldados nazistas bate à sua porta e pergunta se você viu uma mulher com 2 crianças. Você sabe que, se falar a VERDADE, os soldados matarão a mulher e as criancinhas inocentes. Elas não fizeram nada. Estão sendo caçadas simplesmente por causa de uma intolerância. Você diria a VERDADE ou MENTIRIA?

Acredito que a maioria das pessoas que tem amor, compaixão e empatia pelos outros MENTIRIAM, pois, nessa situação, a mentira é um ato ÉTICO, de proteção à vida de pessoas inocentes. Falar a VERDADE, nessa situação, seria geralmente visto como algo condenável, como uma violação moral.


Esse é um exemplo de situações de EXCEÇÃO em que falar a MENTIRA é eticamente aceito e até mesmo desejável.


MENTIRAS INOFENSIVAS

Em muitas ocasiões a mentira é usada como uma estratégia para não magoar ou não entrar em conflito com outras pessoas. É o que se chama de “mentira social”. Recorrer a essa estratégia eventualmente faz parte do comportamento humano, é algo inofensivo, uma forma de facilitar a interação social, quase uma forma de “etiqueta”. Um exemplo é quando você está na casa de alguém que você não conhece, ela te oferece um alimento, pergunta se está gostoso e você diz que sim, para ser educado, quando, na verdade, não acha que está gostoso.


MENTIRAS PREJUDICIAIS: QUANDO MENTIR SE TORNA ALGO DOENTIO

Há mentiras que PREJUDICAM e causam DANOS a quem mente ou a pessoas que convivem com ela, levando, muitas vezes, à destruição de relacionamentos importantes, perda de empregos ou de oportunidades de crescimento profissional.


Isso acontece em várias situações:

a) Quando a pessoa recorre a mentiras seletivas, em assuntos ou temas específicos em relação aos quais ela não consegue lidar ou enfrentar. Nesses casos, nem sempre a mentira é usada para enganar ou fazer mal a alguém. Geralmente é uma estratégia para evitar conflitos. A prática desse tipo de mentira cria problemas diversos, principalmente de relacionamentos;


b) Quando a pessoa mente com frequência e entra num ciclo em que as falsas histórias acabam se tornando um estilo de vida, podendo ser um sinal de uma doença psíquica chamada MITOMANIA(ou mentira patológica, mentira compulsiva ou “síndrome do Pinóquio”). Apesar de ainda não constar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a mitomania, é uma doença psíquica na qual há uma tendência duradoura e incontrolável para a mentira, contada com o objetivo de autoproteção, ou falseamento da realidade, para fazê-la parecer melhor, aparentar mais do que tem ou encobrir algo. Uma pessoa que sofre de mitomania vive alimentando mentiras, fala que realizou coisas que não realizou, com o objetivo de elevar a importância dela e adquirir uma imagem mais positiva frente a quem a ouve, ela quer passar uma imagem de pessoa próspera, bem-sucedida, poderosa e acaba mentindo porque não suporta a realidade em que vive. Um mentiroso compulsivo mente como um hábito, geralmente isso remonta à infância e mentir é a sua forma normal de responder à perguntas simples, algumas vezes com pequenas mentiras, outras com mentiras mais elaboradas, cheias de detalhes. Mentirosos compulsivos podem esconder a verdade sobre tudo, quer seja algo grande ou pequeno. As mentiras aqui nem sempre são usadas para obter vantagem ou recompensa: para um mentiroso compulsivo, dizer a verdade pode chegar a ser muito estranho e desconfortável.



c) Há casos em que as mentiras são indícios mais graves, são parte de doenças psíquicas, chamadas de “transtornos de personalidade”:

. Transtorno de personalidade narcisista (uma das características é que a pessoa “exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior”; arquiteta “fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal”);

. Transtorno de personalidade antissocial (uma das características é a “tendência a falsidade, indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal”);

. Síndrome de Munchausen (a pessoa mente e simula sintomas de doenças graves para obter cuidados médicos).


Motivos que levam a pessoa a mentir:

A mentira pode ter múltiplas causas, dentre as quais destacamos:

. Problemas de autoestima, autoimagem, sentimento de inferioridade: a pessoa não gosta de quem ela é. Como precisa da aprovação do outro, mente para obter essa aprovação: quer passar uma imagem dela própria melhor do que a que verdadeiramente tem;

. Autopreservação, mecanismo de defesa: mente para não magoar outras pessoas ou para evitar conflitos ou quando se sente em perigo;

. Baixa autoconfiança, insegurança: quando mente, a pessoa sente-se mais forte. À medida que as pessoas acreditam em suas histórias, ela começa a se sentir aceita e interessante e passa a contar histórias cada vez mais incríveis e a tornar disso um hábito;

. Para obter ganhos e regalias: ela pensa: “se mentir trás ganhos, vale a pena mentir, já que quem mente fica em vantagem em relação a quem diz a verdade”;

. Questões sociais: vivemos em uma sociedade que valoriza a imagem de sucesso e status, em detrimento do que as pessoas são, seus valores, suas qualidades intrínsecas. Isso é exacerbado nas redes sociais e cria uma pressão cultural por manter aparências que possam atrair aprovação social;

. Histórico infantil: comum em filhos que tiveram pais demasiadamente repressivos ou permissivos; tiveram uma educação julgadora, imposições, disciplinas rígidas, pais dominantes e autoritários;

. Quadro de carência acentuada;

. Necessidade de apreço ou atenção.


Algumas dicas sobre como lidar com alguém que mente:

Qualquer que seja o caso em que a pessoa se enquadre, nas diversas opções acima, se ela cria uma situação que causa problemas para ela ou para outras pessoas, veja essas dicas, talvez alguma delas te ajude:

1) Antes de mais nada, precisamos compreender que a pessoa que tem o hábito de mentir não faz isso para nos atingir, não é endereçado a nós. É algo que a pessoa faz por causa do modelo mental dela;

2) Uma forma de ajudar a pessoa a superar o hábito de mentir é cultivar um clima de confiança, amor e respeito que dê espaço à verdade, mesmo quando for desagradável. Converse com a pessoa, reservadamente, dê segurança e oriente a assumir a responsabilidade por suas atitudes e mostre que está tudo bem, por mais que a verdade seja algo que desgaste, é melhor do que a mentira;

3) Coloque limites, expresse que não te faz bem, quando ela mente para você e, inclusive, sinalize que caso ela continue com esse comportamento, poderá causar danos ao relacionamento, com risco de levar à perda da confiança e, consequentemente, atrapalhando o relacionamento;

4) Se, ainda assim, mesmo adotando as dicas anteriores, a situação não for resolvida, muitas vezes é preciso orientar e, em alguns casos exigir (colocar como condição para a manutenção do relacionamento) que a outra pessoa busque uma ajuda profissional de um psicoterapeuta. A pessoa que carrega o vício de mentir pode não conseguir parar de mentir, sozinha. O comportamento dela é similar ao de um dependente químico. Em geral uma pessoa que tem mitomania só busca ajuda apenas quando percebe que seu comportamento está trazendo fortes danos para a sua vida, geralmente no ambiente de trabalho, ou nos seus relacionamentos amorosos, familiar ou de amizades. Na maioria das vezes se trata de uma doença, uma distorção que precisa ser corrigida, até porque muitas vezes junto com o hábito de mentir se aliam outros traços, como a frieza, o desrespeito e a agressividade. A pessoa precisa de AJUDA para resolver essa questão;



5) Muitas vezes é saudável fazermos uma análise das VANTAGENS e DESVANTAGENS, dos PRÓS e CONTRAS, dos PONTOS POSITIVOS e NEGATIVOS do relacionamento com a pessoa. Essa análise pode levar a 2 situações bem diferentes:

5.1) Após analisar as vantagens e desvantagens do relacionamento com essa pessoa, pode ser que você se surpreenda, ao perceber que a pessoa te faz muito bem, ela demonstra que gosta de você, dá provas de que abre mão de muitas coisas por sua causa, ela dá provas consistentes de que te ama, não apenas por palavras, mas, também, em suas ações, tem evidências de várias mudanças que ela já fez, para MELHOR, ajustando comportamentos dela para te satisfazer, para te fazer feliz. Ou seja, os pontos POSITIVOS são bem mais significativos que os pontos negativos. Nesse caso, vale a pena lutar pela pessoa, apoia-la para que busque ajuda ou, em alguns casos, aprender a se fortalecer para conviver com ela;


5.2) Outras vezes, você pode se surpreender, negativamente, ao perceber que está se relacionando com uma pessoa manipuladora, que apenas te usa, não tem empatia, só te atrapalha, só está com você por causa do que você tem a oferecer a ela, mas não te acrescenta nada na sua vida. Se esse for o caso, a melhor opção é se distanciar da pessoa que te prejudica. Muitas vezes, quando não se pode romper totalmente o relacionamento (casos de pais e filhos, por exemplo), é saudável, pelo menos, reduzir o contato até o nível que você perceba que não te afeta tanto.


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